A existência desconhecida de um quadro perdido, conta que em certas alturas Y entrava na sala, fixada no horizonte, para preparar as tintas. Via do outro lado do vento e dali saíam intrincados desvios, tempos empastados, nervos de terbentina e manchas transparentes irritadas com o nevoeiro que não ajuda a distinguir. E as ideias sempre a transpirar…
Nem sempre uma exposição de pintura é feita de certezas , projectos calculados e imagens previsíveis…
Os quadros perdidos ou a metáfora de uma vida
Não é que as telas em branco sejam adversas ao pintor mas o que é estranho é a maneira como se apoderam dele todos os dias, de maneira tão diferente. Invadem-no retirando-lhe aquilo que parece ser o ” ódio” da liberdade. Será que esta pintura tem fim ou somos nós que a esgotamos com um requinte precioso ?
Caro espectador :
- O que eu podia ter sido? O que ainda poderei vir
a ser? Se tu me tivesses acompanhado, Tu que me olhas assim, também serias outro?
- Agora que estás aí pela primeira vez…. Aqui estou de princípio. Desfeito. Tens esta oportunidade de me veres quase nu, meio vivo, quase grande. Expropriado…Suspenso.
Assim parado represento o acontecimento para transformar, para sentir. O branco inacabado onde a criação recomeça….Sabe que mais uma vez me dirijo a si……?
- Aproveito para pensar.
ana maria