O parque era composto entre outras coisas de auto retratos dez imagens de nós.
Uma das dúvidas do guarda do parque,
Enquanto olhava para os retratos, era se seriam fiéis?
Cópias ou simulações, de quê?
De quem?
Andava intrigado.
Quanto mais os via menos acreditava que existissem. E se fosse possível observá-los por detrás dos filtros, o que se veria neles?
Histórias mobilizadas de tempo eterno, fixo.
A rodar sobre si próprio, em pausa.
O que é certo é que ali estava para os vigiar, para a vigiar. O guarda do parque era uma espécie de faroleiro, do seu posto, da fixidez do seu lugar, controlava os retratos, iluminava-o, guiava-os, protegia-os.
Habituou-se a dirigir-lhes poucas palavras:
Olá, Bom dia, Que se faz? O tempo não ajuda nada!
E quando os retratos lhes mostravam um sorriso, rapidamente desviava o olhar, nunca respondia nem sim nem não …. ficava para ali a hesitar, um dia atreveu-se e respondeu …
Ninguém percebeu.
De resto, todos os dias lhes distribuía o olhar e era com afecto que eles o esperavam.
Também ele se tinha apaixonado. Retratos demolidores.
Em rondas sucessivas, memorizava-os, conhecia-os meticulosamente e dava-se conta de recuar até o olhar os captar em todo o campo de percepção ou aproximava-se tanto que conseguia ver pequenos sinais que pareciam inquietos sempre dispostos a transmudarem-se.
O guarda do parque era um sedutor. De tanto os olhar transformava-os, aliciando-os com palavras sem encanto mas firmes na sequência.
Maravilhas de jogos de piscadelas.
No princípio as sensações transbordavam e os efeitos pressionavam,
as entranhas remexiam-se e cada retrato retraía-se e inchava, ora desconfiado ora deliciado.
Era uma espécie de pacto: Ele nunca diria aos visitantes que os retratos não eram cópias e os retratos permitir-se-iam viver como se o parque fosse deles.
Com o passar dos anos o guarda aceitou a transcendência daquelas realidades, deu-lhes atenção, só com palavras de amor, de desejo, sem nunca os tocar sem nunca os sentir. Amava-os.